Vol. II – (6) APÊNDICE A: A CRONOLOGIA DO CASO DA SRA. EMMY VON N.



Existem sérias incoerências nas datas do caso clínico da Sra. Emmy von N. apresentadas em todas as edições alemãs da obra e reproduzidas na presente tradução. O início do primeiro período de tratamento da Sra. Emmy por Freud é atribuído duplamente a maio de 1889 em [1]. Esse período durou cerca de sete semanas (ver em [1]). Seu segundo período de tratamento começou exatamente um ano após o primeiro, isto é, em maio de 1890. Tal período durou umas oito semanas (ver em [1]). Freud visitou a Sra. Emmy em sua propriedade do Báltico na primavera do ano seguinte (ver em [1]), isto é, 1891. A primeira contradição dessa cronologia aparece em [1], onde a data dessa visita é indicada como maio de 1890. Esse novo sistema de datação é mantido em pontos posteriores. Em [1] Freud atribui um sintoma surgido no segundo período de tratamento ao ano de 1899, e por duas vezes atribui sintomas que surgiram no primeiro período de tratamento ao ano de 1888. No entanto, recorre a seu sistema original em [1], onde indica a data de sua visita à propriedade do Báltico como 1891.
Há uma evidência em favor da primeira cronologia – isto é, a que atribui o primeiro tratamento da Sra. Emmy por Freud ao ano de 1888. Em [1] ele observa que foi enquanto estudava as abulias dessa paciente que começou pela primeira vez a ter sérias dúvidas sobre a validade da asserção de Bernheim de que “a sugestão é tudo”. Externou essas mesmas dúvidas energicamente em seu prefácio a sua tradução do livro de Bernheim sobre a sugestão (Freud, 1888-9), e somos informados, numa carta a Fliess de 29 de agosto de 1888 (1950a, Carta 5), de que ele já terminara o prefácio naquela data. Também nessa carta escreve ele: “Não partilho das opiniões de Bernheim, que me parecem unilaterais.” Se as dúvidas de Freud foram indicadas pela primeira vez pelo tratamento da Sra. Emmy, esse tratamento deve ter tido início, portanto, em maio de 1888, e não de 1889.
A propósito, essa correção esclareceria uma incoerência no relato aceito de algumas das atividades de Freud após seu retorno a Paris, na primavera de 1886. Em seu Estudo Autobiográfico (1925d, Capítulo II) ele observa que, ao utilizar o hipnotismo, empregou-o “desde o começo” não só para dar sugestões terapêuticas, mas também com a finalidade de rastrear a história do sintoma até suas origens – desde o começo, em outras palavras, ele usouo método catártico de Breuer. Sabemos por uma carta a Fliess, de 28 de dezembro de 1887 (1950a, Carta 2), que foi em fins daquele ano que ele começou a dedicar-se ao hipnotismo; já em [1] e [2] do presente volume, ele nos diz que o caso da Sra. Emmy foi o primeiro em que tentou manejar o procedimento técnico de Breuer. Se, portanto, esse caso data de maio de 1889, houve um intervalo de no mínimo dezesseis meses entre os dois fatos, e, como observa o Dr. Ernest Jones (no Vol. I de sua biografia, 1953, pág. 63, edição inglesa), a memória de Freud era pouco precisa quando ele empregava a expressão “desde o começo”. No entanto, se a data do tratamento da Sra. Emmy fosse antecipada para maio de 1888, essa lacuna ficaria reduzida a apenas uns quatro ou cinco meses.
A questão se encerraria caso fosse possível demonstrar que Freud esteve fora de Viena por um período longo o bastante para cobrir uma visita à Livônia (ou qualquer país que este possa ter representado) durante o mês de maio de 1890 ou de 1891. Mas, infelizmente, as cartas que ainda existem daquele período não oferecem qualquer prova de tal ausência.
A questão torna-se ainda mais obscura em virtude de outra incoerência. Num nota de rodapé em [1], Freud comenta sobre a enorme eficácia de algumas de suas sugestões feitas durante o primeiro período de tratamento (a rigor, em 11 de maio de 1888 ou 1889). A amnésia então produzida por ele, em suas palavras, ainda estava atuante “dezoito meses depois”. Isso por certo se refere à época de sua visita à propriedade campestre da Sra. Emmy, pois, em seu relato dessa visita, ele volta a mencionar tal episódio. Ali, contudo, fala das sugestões originais como se fossem feitas “dois anos antes”. Se a visita à propriedade se deu em maio de 1890 ou de 1891, os “dois anos” devem estar certos e os “dezoito meses” devem ter sido um lapso.
Mas essas contradições repetidas sugerem outra possibilidade. Há motivos para crer que Freud alterou o local da residência da Sra. Emmy. Não terá ele, como uma precaução extra para não trair a identidade de sua paciente, alterado também a época do tratamento, mas falhado em manter essas alterações coerentemente até o fim? Toda essa questão permanece em aberto.

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