Vol. I – (3) PREFÁCIO À TRADUÇÃO DAS CONFERÊNCIAS SOBRE AS DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO, DE CHARCOT (1886)


NOTA DO EDITOR INGLÊS
PREFÁCIO À TRADUÇÃO DE LEÇONS SUR LES MALADIES DU SYSTÈME NERVEUX: TOME TROISIÈME, DE CHARCOT
(a) EDIÇÃO ALEMÃ:
1886 Em J.-M. Charcot, Neue Vorlesungen über die Krankheiten des Nervensystems insbesondere über Hysterie [Novas Conferências sobre as Doenças do Sistema Nervoso, Particularmente sobre a Histeria], iii-iv, Leipzig e Viena, Toeplitz e Deuticke.
O prefácio não foi reimpresso em alemão. A presente tradução (a primeira para o inglês) do prefácio é de autoria de James Strachey. A tradução de Freud de duas das conferências (XXIII e XXIV) foi publicada antecipadamente no Wien. med. Wochenschr., 36 (20), 711-15 e (21), 756-9 (15 e 22 de maio de 1886), tendo como título “Über einen Fall von hysterischer Coxalgie aus traumatischer Ursache bei einem Manne” (“Sobre um caso de coxalgia num homem em decorrência de um acidente”) (Freud, 1886e). A publicação do livro não pode ter sido anterior a julho de 1886 (data do prefácio de Freud); em todo caso, porém, ela se deu antes da publicação do original francês (Paris, 1887), como Freud menciona em seu prefácio.
O modo como Charcot confiou a Freud a incumbência de fazer a tradução desse livro para o alemão foi relatado por Freud, com mais detalhes em seu Estudo Autobiográfico (1925d), Edição Standard Brasileira, Vol. XX, [1], IMAGO Editora, 1976, e também numa carta que, nessa época, Freud escreveu a sua futura esposa (12 de dezembro de 1885) editada em Freud, 1960a (Carta 88).
As poucas notas de rodapé escritas por Freud simplesmente registram, como ele mesmo indica no prefácio, a evolução subseqüente de um ou dois casos clínicos relatados no texto e, numa delas, uma recente mudança de opinião de Charcot quanto a um detalhe do diagnóstico. Três dessas conferências (XI, XII e XIII) tratam da afasia. Em um breve comentário, Freud mostra que já estava especialmente interessado no assunto, sobre o qual, cinco anos depois, escreveria sua monografia. Nesta, fez uma breve descrição dos pontos de vista de Charcot (1891b, 100-2) e referiu-se ao presente trabalho.
Conta-nos Jones (1953, 230) que Charcot recompensou Freud pela tradução, dando-lhe de presente uma coleção completa de suas obras, encadernada em couro, com esta dedicatória: “A Monsieur le Docteur Freud, excellents souvenirs de la Salpêtrière. Charcot”.
PREFÁCIO À TRADUÇÃO DAS CONFERÊNCIAS SOBRE AS DOENÇAS DO SISTEMA NERVOSO, DE CHARCOT
Um empreendimento como este, que objetiva apresentar os ensinamentos de um mestre de clínica médica a círculos médicos mais amplos, por certo dispensa justificativas. Proponho-me, portanto, dizer apenas algumas palavras a respeito da origem desta tradução e sobre a matéria das conferências que ela contém.
No inverno de 1885, quando cheguei ao Salpêtrière para uma permanência de quase meio ano, constatei que o Professor Charcot (então pelos seus sessenta anos, trabalhando com o vigor da mocidade) se havia afastado do estudo das doenças nervosas que se baseiam em alterações orgânicas e estava-se dedicando exclusivamente à pesquisa das neuroses – e, em especial, da histeria. Essa mudança relacionava-se com as modificações (descritas na primeira conferência deste livro) que se efetuaram nas condições do trabalho e do ensino de Charcot, em 1882.
Após superar minha perplexidade inicial diante das descobertas da novas pesquisas de Charcot, e depois que aprendi a avaliar sua grande importância, pedi ao Professor Charcot permissão para fazer uma tradução para o alemão das conferências que continham essas novas teorias. E aqui devo agradecer-lhe não apenas pela presteza com que me concedeu sua permissão, como também por sua ajuda ulterior, que tornou possível que a edição alemã, na realidade, seja publicada vários meses antes da edição francesa. Seguindo instruções do autor, acrescentei algumas notas, na maioria acréscimos às histórias dos pacientes de que trata o texto.
O cerne deste livro está nas magistrais e fundamentais conferências sobre histeria, que, junto com seu autor, podemos esperar venham a descerrar uma nova era na conceituação dessa neurose pouco conhecida e, a rigor, denegrida. Por esse motivo, com o consentimento do Professor Charcot, modifiquei o título do livro, que em francês é ‘’Leçons sur les maladies du système nerveux, Tome troisième”, e coloquei em destaque a histeria dentre os temas nele abordados.
Todo aquele a quem estas conferências motivarem a um aprofundamento nas pesquisas sobre histeria feitas pela escola francesa poderá remeter-se aos Études cliniques sur la grande hystérie, de P. Richer, de que saiu uma segunda edição em 1885 e que, em mais de uma aspecto, constitui uma obra extraordinária.
VIENA, 18 de julho de 1886

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